O autor do poema que tomamos a liberdade de transcrever neste post, chama-se Manuel António Pina e é um dos maiores poetas contemporâneos da nossa língua; o autor de "Os papéis de K.", "Os livros", "Atropelamento e fuga", “Ainda Não É o Fim nem o Princípio do Mundo - Calma É Apenas Um Pouco Tarde” entre tantas outras obras, muitos delas para a infância e a juventude como "Pequeno livro de desmatemática", "O cavalinho de pau do Menino Jesus", "Os Piratas" e tantos mais; o autor, que é poeta, ensaísta, cronista, jornalista, homem de ideias que não teme nunca partilhá-las (mesmo que iconoclastas); o autor fazia parte da lista de um júri que na manhã de 5.ª feira se reuniu na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e que nessa mesma manhã, desse 12 de Maio, decidiu atribuir-lhe (justamente) o maior galardão da língua portuguesa - o Prémio Camões 2011 (onde já pontuam nomes grandes da nossa língua - Vergílio Ferreira, Miguel Torga, José Saramago, Jorge Amado, Eduardo Lourenço, Sophia de Mello Breyner Andresen, Lygia Fagundes Teles e tantos outros); o autor de quem falamos vai estar, assim o esperamos, no dia 27 de Maio, na sala de leitura da nossa biblioteca escolar.
Será um privilégio para toda a comunidade escolar a presença deste grande poeta que honra as letras portuguesas.
(e agora o poema)
Na Biblioteca
O que não pode ser dito
guarda um silêncio
feito de primeiras palavras
diante do poema, que chega sempre demasiadamente tarde,
quando já a incerteza
e o medo se consomem
em metros alexandrinos.
Na biblioteca, em cada livro,
em cada página sobre si
recolhida, às horas mortas em que
a casa se recolheu também
virada para o lado de dentro,
as palavras dormem talvez,
sílaba a sílaba,
o sono cego que dormiram as coisas
antes da chegada dos deuses.
Aí, onde não alcançam nem o poeta
nem a leitura,
o poema está só.
E, incapaz de suportar sozinho a vida, canta.
Manuel António Pina, in Poesia Reunida, p. 181
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